sábado, 27 de dezembro de 2008

D. Estefânia; 1

“Era moça simples e estudiosa, usava roupas comportadas e de cores neutras e ia à igreja diariamente.” – Cochichou a gorda para D. Estefânia dentro do ônibus.

“Você está se referindo a filha do Seu Manoel” – Perguntou confusa D. Estefânia.

“Ela mesma. Dizem que agora trabalha em bordel!” – Respondeu a gorda com cólera.

“Acho ótimo quando os jovens se interessam cedo pelo trabalho” – Disse contente D. Estefânia.

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Indico?
O rouxinol e a rosa - Oscar Wilde
(Clica no título do conto para baixar)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Who was born?

Não, ninguém nasceu, e se nasceu não se orgulharia do que é feito.
“Alguém me ajuda a rechear o peru?" - Disse ela purgando de felicidade.
Teu peru recheado não faz questão de participar da celebração! Nem colocaram o nome dele no amigo-oculto.

Cansei de Natal.

- Aceita um Dry Martini?
- Sim.

Depois de dois diálogos exatamente iguais ao que escrevi acima, me vi aos papos com a viúva, de marido vivo, ela preferia o imaginar morto. Falávamos de consumismo. Falávamos de Dry Martinis. Falávamos. Era Natal. "A festa cristã!" - A viúva exclamou com felicidade. Fechei os olhos por um estante. A viúva frígida achou que não a ouvia - não a ouvia mesmo - e saiu de perto praguejando todos do mundo. A meia noite a viúva desejou-me "Feliz Natal".

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domingo, 21 de dezembro de 2008

Depois das 10; (Cap. 3)

Capítulo 1
Capítulo 2
(Só clicar)

N
ão sabia as condições impostas por seu destino. Não sabia que tinha destino. Quando anda prefere não saber. Andava a passos largos. Em uma direção qualquer.

“Eu sempre fui boa para aquele canalha.” – Disse alto, assustou a velhinha que passava por ela.
- Desculpe senhora! Sabe me dizer pra onde fica o viaduto?
- Vire segunda esquerda, e tente parar de falar sozinha, filha, causa má impressão.

“Pro inferno com a boa impressão” – Pensou firme enquanto dava à velha um singelo sorriso.
Subiu rápido o viaduto - que não era tão alto quanto ela imaginava - e foi se sentar no muro de proteção.

“Não, não posso fazer isso por causa de um homem!” – Pensou. Sabia, desde o princípio, que não o faria. Queria fazer como em filme, a moça arrependida recomeça a vida e a faz de forma surpreendente após desistir de se matar.

Julia abriu um sorriso bonito. Era linda! Resolveu fumar um cigarro antes de ir para casa recomeçar de forma surpreendente sua vida. Deixou o isqueiro - dado pelo “canalha” - cair. Assustou-se, deu um grito, caiu junto.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Relacionamento morto;

(Foto e Edição: Eu!)


- A que horas ele chega?
- Não sei meu bem. Você está muito ansiosa pro meu gosto!
- E não é pra estar?
- Sei que é, mas não sei se devemos mesmo fazer isso.
- Claro que devemos Rui. O livro dizia que só com uma experiência dessas poderemos reavivar nosso relacionamento.
- Só acho exagerado demais para nós dois.
- É também acho, mas pode ser bom, e quem não morre, não vê Deus!
- Lá vem você com esses ditados ridículos do seu pai.
- Ridículo, mas muito animador.
- Você imagina como vai ser isso?
- ...
- Patrícia!
- Que foi?
- Por que essa cara de prazer?
- Só estou imaginando como será.
- Acho que eu vou sobrar nessa história.
- Claro que não Ruizinho.
- Você sabe que odeio "Ruizinho". E acho melhor não fazermos isso!
- Agora não dá pra voltar atrás, o menino já deve estar chegando.

(Campanhinha)

- Chegou, viu!
- Tudo bem, vamos fazer.
- Ótimo! Você prefere a faca ou o estilete?
- Tanto faz Patrícia! Nunca matei ninguém...

Lucas Moratelli

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Normais;

(Estava guardado e eu precisava me livrar dele)

L
ouca! Chego até duvidar de sua superficial loucura. És mesmo louca?
Suas coisas têm arrumação impecável, sua vida já não tão arrumada é. Vive em uma casa alugada, paga pelo filho, que não a visita mais. Dizem por aí, que tentou certa vez interná-la. Fracasso estrondoso teve. A louca da casa alugada de filho ausente organizou greve dentro do hospício. Teve louco se recusando a visitas, alguns não quiseram comer e outros, em admirável loucura, prenderam os médicos em camisas de forças. Tiraram-na de lá, a greve acabou.

Não digo que sua loucura é farsa. Quem me dera deus entender essas coisas da cabeça. Só acho, assim por achar, que a louca não é tão louca assim.
A vi outro dia chegar com uma sacola cheia de laranjas. Que fez esta criatura com tantas laranjas? Mamãe me dizia que laranja é bom pra gripe. Minha louca gripada está?

De fato, não sei se minto ou se mentem a mim. Mas a louca, que usa um casaquinho vermelho que é uma formosura, não saiu mais de casa. "Morreu ou mataram?" - Ninguém se indagou, além de mim.
Ao seu funeral levei flores de laranjeira. Quando me permitiram jogá-las por cima do caixão, cheguei perto, bem pertinho, e perguntei com tom amável: Mulher, és louca?

Lucas Moratelli



domingo, 14 de dezembro de 2008

Blowin' In The Wind


Estava atônito. Não fez questão de ver quem estava a gritar no palco. Arrependeu-se anos depois. Só precisava de um cigarro!

- Que puseram em minha bebida? Onde está minha bebida?

Ninguém o olhava. "Quantos ouvidos precisará um homem ter, Até que ele possa ouvir o povo chorar?" - Cantavam todos tristonhos, menos ele.

Melhor sair daqui. Melhor continuar por aqui. Quem tem as respostas? - Pensou. Recostou-se num canto qualquer. Ouviu então o magrelo cantar no palco: "A resposta meu amigo, está soprada no vento". Aliviou-se. Achou então um barbudo, amigo seu, que lhe ofereceu uma bebida.


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Rio de Janeiro, 14 de Dezembro de 2008, vinte e sete reais e trinta e cinco centavos. Sob forte influência de um céu cinza e um disco recém comprado do Dylan.

Lucas Moratelli.



terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Doce Martinha


A
passos rápidos para o boteco deixou cair. Deixou-se cair. Caiu.
Foi ver a conta da Martinha.
Ô menina pra comer doce.
Viu que Martinha, na cólera melhor dizer Marta, comprou cigarros.
Que fazer deus do céu?
A doce Martinha não andas a comer doces,
Fuma cigarros como a uma cachorra velha.
- Essa Marta me paga!
A passos rápidos para a casa deixou cair. Deixou-se cair. Caiu.


Lucas Moratelli

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Maldito Cabral;

O ocorrido se bem me lembro foi em março de 1972. Era eu, o melhor e mais prestativo da repartição, até Cabral chegar. Maldito Cabral! Antes mesmo de me acostumar, foi pegando tudo, até mesmo meu lugar. Fui mandado ao depósito, para lá trabalhar. Cabral sempre simpático ficara com meu espaço e com os afazeres que tinha eu, orgulho de cuidar.

"Em minha casa, ao menos, era eu o rei" - Pobre de mim pensava, até saber que vizinhos novos ganhei. A moça era bela e simpática dessas que dá gosto de ver. Senti até vontade, o melhor foi esquecer. Meu mundo caiu de forma passional quando eu ao chegar do trabalho vi que o vizinho era o maldito do Cabral.

De elogio minha esposa cálida desmanchou. "Cabral querido" - Foi como ela o chamou.

Por semanas vi meu lugar diminuir. Esqueceram o Estefânio. Apenas "Cabral" era possível ouvir. Então em um lapso de loucura resolvi matar aquele escárnio. Fazer assim, com minhas mãos, o sujo do trabalho.

De Cabral ficou o corpo. De sua mulher a solidão. E a mim pobre Estefânio mandaram para a prisão.

Hoje sofro convalescente esperando a morte chegar. Só tenho medo de uma coisa, o maldito do Cabral lá encontrar.

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But, i tried.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Poucas calças;

Era o dia mais importante de sua vida. Conseguia ter um dia assim toda semana, mas desta vez seria diferente. Seu mundo mudaria de cor. Teria enfim a sensação de liberdade.

Um dia antes arrumou a mala como a mãe havia lhe ensinado. "Ponha sempre as calçinhas próximas das meias e leve poucas calças, você pode sempre repetir de calça, de blusa nunca!" - Dizia sua mãe antes das viagens de família para Minas Gerais. E ela assim fez, com menos felicidade do que nas vezes que fazia a mala para viajar com a família, mas fez. E quando terminou foi dormir. Não conseguiu. Passou a noite planejando o dia seguinte.

Acordou disposta, comeu algumas das bolachas que ficavam em um pote de plástico em cima da mesa da cozinha e foi tomar banho. Terminou o banho e se arrumou. E então de súbito tomou coragem e foi falar com os pais.

- Posso falar com vocês? - Disse aos dois seres de meia idade sentados em cadeiras de plástico na varanda.
- Pode sim filha. - Respondeu o homem fechando o jornal de esportes.
- O que você quer Tayrine? - Disse-lhe a mulher que atrevia, de quando em vez, chamar de mãe.
- Eu to saindo hoje de casa! - Disse.
- Mas você só tem onze anos menina! - Disse o homem em tom de briga.
- Mas vocês nunca me escutam. - Tentou dizer, mas ninguém lhe ouviu. Haviam acabado de iniciar uma discussão sobre o futuro da menina que os olhava com lágrimas nos olhos. E antes de explodir e gritar a menina virou as costas, pegou a mala e partiu.

E a única que notou foi sua pequena poodle. Que não conseguia latir no meio do falatório da varanda.


Por Lucas Moratelli


(Promessa cumprida Tay!)

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Fantasmas;


F
azia frio, talvez mais do que eu pudesse perceber. Olhava fixo pela janela juntando partes de músicas antigas e cantando-as em pensamento. Vi árvores, crianças, flores, gotas, nuvens, tristeza, pureza e tudo que era necessário no momento. Meus malditos lapsos de amnésia não me deixam transcrever os versos que criei enquanto a paisagem se movia. Da dor bem me lembro, afinal foi uma das coisas mais bonitas que senti nos últimos meses. E antes de chegar à conclusão de que isso poderia ser uma cena para um de meus contos, uma lágrima irônica rolou. Do conto eu decidi esquecer, melhor guardar a cena assim, solta, sem rimas, personagens e palavras bonitas. Deixarei ser sempre simples assim como minha única e tímida lágrima.


terça-feira, 18 de novembro de 2008

Acidez;


E
antes do sol se por teve de guardar todas as tangerinas. Nem queria imaginar se a pegassem de tangerinas na mão. Tão crua, tão limpa, tão cheia de tangerinas. "Que dirá meu amor se me vir assim?" - Pensou guardando a última fruta. E antes do crepúsculo anunciar tão fortemente a chegada da noite, voltou a largar todas as tangerinas no chão. Decidiu, simples assim, que recolher tangerinas a luz da Lua é bem mais poético.


Lucas Moratelli;

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Depois das 10; (Cap. 2)

|Leia o capítulo 1|

O despertador que ganhara de sua avó no último natal tocou acabando com o sonho onde ela era desejada e feliz. Levantou ainda com sono e foi ver como estava o tempo: chuvoso e cinza, tão mórbido quanto seu humor. Foi à cozinha e apanhou sua caneca amarela e a encheu de café frio. O relógio já marcava nove e meia, não teria tempo de fazer um novo café, mas conseguiu tempo para ler seus e-mails. “Você tem 39 novas mensagens” – A tela piscava para ela. Os emails que diziam “feliz aniversário” apagou sem demonstrar nenhum ânimo, já os que davam parabéns pela publicação do livro ela deixou, apenas abriu o email que tinha como título uma frase de Drummond. Ao terminar de lê-lo desligou o computador e abriu um sorriso de canto de boca, igual ao que ela sempre fazia quando era “a certa” em alguma conversa com seus amigos intelectuais.

“10:00 am” – mostrava o relógio quando Julia entrou no banho. Quinze minutos depois já estava a perambular pelo quarto de toalha e com um cigarro na mão. “Essa deve servir” – Disse segurando uma blusa vermelha contra o espelho. Vestiu-se, pegou a bolsa e desligou o rádio que insistia em tocar músicas dos anos 80. Voltou a sala e se certificou do horário, pois só saia de casa depois das 10. Eram dez e meia, então saiu.

Ao sair do apartamento encontrou uma carta em cima do seu capacho de “Bem-Vindo”, pegou o envelope, o pôs dentro da bolsa, deixou uma lágrima correr e foi andando em direção a escada. “Maldito elevador quebrado!” – Pensou enquanto descia o último lance de escada. Deu “bom dia” para o velho gordo que começara a trabalhar na portaria do edifício a poucos dias e passou pelo portão.

O mendigo amigo de Julia sentado na calçada do prédio vizinho fez sinal com a mão para chamá-la, ela não viu. Contentou-se apenas em vê-la abrir o guarda-chuva e partir. Era a última vez que veria Julia.


(continua...eu acho!)

Por Lucas Moratelli


sábado, 8 de novembro de 2008

Depois das 10; (Cap. 1)

Pensou em cortar o cabelo. Era uma das formas mais claras de demonstrar desespero, já estava cansada de chorar. Mas acabou chorando por não ter coragem de cortar o cabelo.

Seu telefone tocou forte, pareceu rasgar sua dor junto do silêncio e transforma - lá em ferida sangrenta. "Alô" - Disse, e logo em seguida desligou o telefone com fúria: Era ele.

Não sabia ao certo se sofria pela solidão que se aproximava ou pela liberdade alcançada.

Tinha medo do porvir. O futuro de tão incerto lhe dava frio na barriga. Frio ruim. Frio doloroso. Não daqueles de montanha russa que passa rápido. Era duradouro e profundo.

Acabou por decidir esperar a noite terminar antes de sair pra comprar cigarros. Corria o risco de encontrá-lo bêbado na padaria da esquina. E isso seria horrível. É melhor ficar sem fumar, ou melhor, apenas fumar, o último que sobrava.

Pensou forte no que faria, e isso doía, porém pensou. "Alugar uma kitnet adiantaria?" - Se indagou antes de pegar no sono. O quarto branco assumiu então outra dimensão. Ficou grande e vazio, apenas a guardar um corpo sofrido e choroso. E o único som que se ouvia era o da respiração de Julia misturada com o vento frio que batia na janela.


(continua...ou não.)

Por Lucas Moratelli.

domingo, 2 de novembro de 2008

Não por necessidade;

Antes de sair do apartamento ele decidiu ir à área de serviço, não por necessidade, apenas uma simples mania. E foi.
Tinha o costume de ver se estava tudo bem antes de sair de casa. Medo de algum acidente. Medo de algum incidente. Medo.
E dessa vez não foi diferente de todas as outras manhãs de quarta-feira, ele não encontrou nada além de seu isqueiro. Aproveitou para acender um cigarro. Mesmo sabendo que ia morrer, ou, por saber que ia morrer. Fumou. Andou. Pegou as chaves. Passou a porta.
Trancar sempre dava desespero. Um leve desespero, mas desespero. Rodou duas vezes e puxou. Estava trancada. Estava presa. Isolada.
O "conviver" doía dentro. Não queria se isolar, mas não queria viver entre máscaras. Então sempre após trancar a porta, sacava a sua (máscara) de bom moço e punha no rosto triste e cansado, transformando num rosto feliz e amigo. Não era feliz nem amigo, mas passou a ser com todos esses anos.
Foi pro atelier sorrindo. Se soubesse cantar, cantaria. Apenas sorriu.
Deu "oi" pro homem da loja de flores, "olá" para a gorda preta de pasta na mão e "como vai?" para o moço afeminado que sempre tentava puxar conversa depois do "como vai?" diário.
A loja era linda! Florida, velha, bem decorada. Usando o tamborilar do coração como fundo musical andou mais rápido e destrancou a porta do ateier. E foi logo para a área de serviço, não por necessidade, apenas por uma simples mania.

Por Lucas Moratelli.


Ando com preguiça de escrever contos longos ou com coesão.
Entender não é necessário, apenas faça cara de intelectual e sorria.
Hoje em dia é o suficiente.

Passar bem. (Y)

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Parágrafo;

Seco ou Vodka. "A segunda opção é bem melhor!" - Ela disse antes de discordar de mim. Não fazia questão que minha opinião fosse ouvida, não fazia mesmo. Afinal quem quer ser ouvido ou respeitado? "Vamos de Vodka" - Falei abrindo a garrafa sem rótulo atrás do bar. Se pudesse correria até um lugar onde ninguém fizesse questão de me odiar. "Comece por você mesmo!" - Meu analista sempre resmunga. Como começar? Como fazer? Como? De fato nunca fui bom com começos. Quando a coisa engrena vou com toda a força, mas até aí, desmancho-me em sonhos. E sonhos são a válvula de escape e de covardia de todo ser humano. "Errado!? Eu?" - Foi o que eu disse a ela em um lapso de grandiosidade. Arrependo-me até hoje. Afinal que ser humano é esse que merece respeito se nem consegue dar um maldito parágrafo?

Por Lucas Moratelli



sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Identidade mórbida;

"Aconteceu em uma rua escura e deserta ao lado de uma catedral de estilo gótico do centro da cidade. As pessoas que passavam por lá disseram que crimes assim sempre acontecem. Apenas a carteira de identidade de Maria foi deixada intacta."

O que era de se esperar de uma rua escura ao lado de uma igreja mais escura ainda.
E de fato é absurdo o que aconteceu ao criminoso. De Maria muitos já se encarregaram de lamentar.

Atendia pelo sonoro pseudônimo de Ralph. Chamava-se Joaquim. E após fazer tudo que pretendia com a coitada da Maria teve o penoso trabalho de apagar as evidências e guardar as partes do corpo.

Passava por um inferno astral. Estava triste por saber que sua mulher preferia outro, que sua mãe tinha apenas três semanas de vida e que seu filho de quinze anos era gay. A única coisa possível de acalmá-lo era matar. Não devia ter parado de fumar! Era melhor que matar. Mas agora apenas matar funciona. E matou (!), Maria Aparecida Gomes Costa, 37 anos, que o diga.

Esperou atrás de uma coluna por trinta minutos até aparecer alguém digno de uma morte tão bela. Ligou seu tocador de mp3, colocou Ludwig van Beethoven a tocar em seus ouvidos e começou a andar atrás de Maria. Ela não percebeu. Então com um pulo digno de filme de terror, daqueles que a cena é cortada e apenas se escuta um grito aterrorizante, segurou a mulher e a adormeceu com um paninho branco encharcado de éter.

Dalí por diante foi um grande orgasmo de adrenalina misturada com satisfação.

E de Maria apenas a carteira de identidade foi deixada.

Por Lucas Moratelli

(Ficcional OK!?)


Aí você vaí pro estágio com tanta coisa na cabeça que acaba pegando o ônibus errado, e o que acontece?
Solta em algum lugar conhecido e vai andando. E derrepente se depara com uma paisagem fantástica!
(É fotografei.)
(Efeitos no Photoshop)


Inté.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Verde, alta e insegura;

Era uma palmeira como todas as outras, disto ele tinha plena certeza. Verde, alta, insegura. E por mais absurdo que parecesse aos outros, a ele tinha enorme significado. Via nela seu poder, sua grandiosidade e sua força. Olhava-a com a admiração digna de servos a reis, apenas a amava. É certo que estava confuso diante da certeza que lhe era sempre clara. Sabia que não seria fácil desvendar os mistérios de sua alma, afinal nem acreditava ou desacreditava ter uma.

Desprendeu-se de suas opiniões densas e sempre cativantes e se pôs a olhar a palmeira. Sentiu ao ver o vento cheiroso de fim de outono balançar sua palmeira cólera mortal. Quem quer que fosse indigno de mexer com sua árvore merecia a morte, porém o vento o fez. E a entortou como a uma fina vareta suspensa no ar. Seus olhos puros encheram-se de lágrimas. Talvez fosse a dor de perder, pensou ele a lembrar de seus velhos e perdidos amores. Não era. Apenas sabia que sua frágil e delicada palmeira lá ficará quando seus ossos forem pó e sua obra eterna como seus sonhos.

Por Lucas Moratelli


(Dedicado a um cara aí.)

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Por alí;


"Viram quando você passou por ali?" - Perguntou o menino alto de cabelos loiros. "Espero que não" - Respondeu ofegante o menino magro com uma maleta preta na mão.


***

Eram parceiros. Mais que isso, eram irmãos. De tudo que passaram em suas juventudes à única coisa que valia lembrar era a amizade verdadeira entre os dois.

Junior, “melhor Junior, que Carlos Junior” - ele sempre dizia, era o mais velho dos dois. Desde pequeno sabia de sua grande beleza e da grande sensação de segurança que passava aos outros. Já Roberto foi sempre magro e o palhaço da dupla. Cabendo-o sempre a função de divertir a todos, mesmo quando não o queria fazê-lo.

Passaram por muitas coisas na vida juntos, e a certeza de um sempre ao lado do outro os fazia continuar. Alguns curiosos diziam sem pudor que formavam um belo casal. Já outros duvidavam de suas índoles. Mas os garotos, homens, sempre foram, esquecendo os adjetivos casuais, amigos!

Entre eles as coisas do mundo se resumiam a detalhes, pequenos detalhes, diante do mundo que haviam, em dupla, criado. Entre suas histórias, a que mais os cativava era a de quando, sem medo, tentaram roubar a epístola do padre do bairro. “Digno de filme” – Roberto sempre dizia.

Suas personalidades eram um tanto peculiares. Seu João, o velho gaúcho dono da padaria, adorava conversar com Junior sobre os clássicos filmes que: “Não são como os de hoje, guri” – sempre dizia ele. Junior apenas ignorava-o quando desandava a falar sobre “Alfred Hithcock”. Sabia que suas opiniões não seriam nem de longe analisadas pelo padeiro polaco, apenas sorria. Tinha um humor irônico, que de tão perfeito se escondia na face clara e sorridente emoldurada por cabelos cor de ouro. Sabia disso perfeitamente.

Ricardo não se fazia de rogado quando a situação exigisse uma piada. Era o bom menino engraçado da casa 23. Mas só ele próprio sabia que sua raiva um dia explodiria. Cultivava-a com certo ardor. Era para ele uma pequena planta que, com certeza, um dia se desmancharia em flor. Suas flores, que distribuiria sem nenhuma piedade.

De certa etapa da vida dos dois meninos, é melhor poupar-se. A vida fez o trabalho de encaminhá-los por muitas situações até chegarem a dividir um pequeno apartamento no centro do Rio de Janeiro.

Depois de uma noite cheia de idéias e possibilidades, eles estavam prontos para o roubo.
- Passe por ele como se nada acontecesse.
- Ok, mas onde eu pego a pasta?
- Relaxa. Eu conheço tudo neste banco, assim que me ver entrar na sala do gerente para tirar cópias de documentos, peça-o para ir ao banheiro. No banheiro pegue a mala preta na segunda cabine.
- Mas como eu vou sair daqui.
- Não vai. Entre no banheiro feminino e espere 10 minutos.
- E saio?
- Sim, correndo! O Guarda vai estar ocupado com a mulher que vai dar um chilique na fila. Pode confiar.
E lá foram eles...

Por Lucas Moratelli

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Vazio;

Incrível era seu mundo: florido, colorido e amado. Era o centro, era o rei, era Danilo.

- O que você está fazendo aqui?
- Não sei mesmo.
- Ué, não me diga que seus pensamentos te trouxeram.
- Quem sabe. Ultimamente eles tem me levado a uns lugares tão estranhos.
- Ta bem. Mas vai ficar aí parado, ou pode me ajudar?
- Ajudo.
- Pega aquelas caixas ali. O idiota do Roberto não veio hoje.
- Ele morreu.
- Mas como guri?
- Morreu ué.
- Entendi, mas como?
- Sei lá. Acho que foi assassinado ou coisa assim.
- Mas gente! E ninguém me avisa? Eu poderia ter mandado flores, ou sei lá, uma garrafa de Vodka pro seu Pedro.
- Ah, esquece isso.
- Tudo é tão fácil pra você, não é Danilo? Até parece que você não o amava.
- Amava, mas chegou à hora dele, eu acho.
- Que menino mais frio!
- Para com isso Jorge. Não acho que seja necessário tudo isso.
- Um dia teu mundo caí. Aí eu quero ser o primeiro a te dizer "Eu te avisei".
- Ok, um dia avise.
- Não seja malcriado Danilo.
- Não serei. Cê me dá o emprego do Roberto?
- Porque você quer o emprego do seu irmão?
- Não sei. Vai ver que meus pensamentos é que querem.
- Você começa na segunda. E manda meus pêsames a teu pai.

De cinza pintou-se o mundo de Danilo. Suas flores deram lugar a cactos. Seu amor não tinha mais.


Por Lucas Moratelli



domingo, 5 de outubro de 2008

Ritalina;



Melhor mesmo era pintar de preto. Rita decidira pintar de verde. De que vale a opinião do escritor, afinal?

Estive toda a tarde a procura de uma ação, uma simples ação, que me deixasse começar a falar sobre Rita. E a ingrata, assim que acho o começo de seu conto, me ignora e escolhe o verde para cor de suas fracas e ruídas unhas.


Deveria parar de uma vez de escrever e voltar ao meu trabalho de tradução, ao qual nem tenho dado a atenção necessária nos últimos dias, tudo por causa de Rita.

Não consigo explicar a personalidade desta mulher, talvez devesse matá-la assim que terminar de passar o pincel do vidro de esmalte pela última unha. Quem sabe um assaltante de banco apavorado tentando se esconder no apartamento apertado de Rita, ou então um tombo mortal ao sair da sala na ânsia de apagar o fogo do feijão. Ou então uma irônica morte por alergia ao cheiro do esmalte. Não, Rita não merece a morte. E além do mais, detesto imaginar coisas mortas.

E já consigo ver como será a noite de minha personagem. Vai comer qualquer coisa, abrir um livro de poesia e ser invadida por um sentimento qualquer. Talvez ódio, inocente, mas ódio.

A dor de possuí-la começa a me incomodar. As coisas que faço desde uma simples crônica a uma visita a biblioteca pública são rodeadas pelo cheiro de Rita. Cheiro forte parecido com cheiro de remédio, algo com Lina no nome. Ritalina talvez.

Depois de viver por três meses com a cena de Ritalina pintando as unhas de verde, meu amor não me deixa terminar seu conto. Prefiro que fique assim, eterna, com seu cheiro a me perseguir.


(* Copiei na caroça a idéia de fazer uma capa pro conto, mas não ficou tão boa quanto as dele. Blog: Muitos Em Um)

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Cívico;


Acordou às 5:30 para não chegar atrasado, passou sua blusa social branca (a única do armário digna de seu grande dever), lavou o que chamava de cabelo com sabão de coco, juntou todos os seus documentos, comeu meio pão duro da tarde anterior e saiu.
Sentia-se grande e superior a todos que por ele passavam. Imaginava o futuro de todos os garotos que via e acabava sempre sentindo pena, afinal o seu era o futuro digno de um homem.
Chegou lá e viu muitos garotos de sua idade sentados na praça onde deveria chegar as sete (porém, chegara às 6:30). Apenas esperou.
As sete sua sonolência fora quebrada pela corneta desafinada que tocava a alvorada, então levantou do banco de cimento do canto da praça e caminhou em direção ao homem fardado que falava alto enquanto os adolescentes se reuniam a sua volta.
Fez testes, respondeu perguntas e passou por uma consulta médica.
Depois de 3 horas dolorosas em uma cadeira de madeira, avista um enfermeiro na porta principal do auditório onde aguardava. Ele carregava um pedaço de papel branco, "deve nos chamar para mais um teste." - imaginou.
- José Ronildo Pereira Silva.
Prontamente José responder: - Sou eu senhor.
- Infelizmente, você não será útil no exército brasileiro, agradecemos sua colaboração.
José saiu do batalhão com a maior tristeza do mundo e quando um garoto de sua idade passou por ele, apenas imaginou que talvez fosse ele seu futuro patrão.

Por Lucas Moratelli.


Acordem o progresso!