Da janela é possível ver. Ver a mulher que passa com o sorriso sujo de batom, o menino magro que pula sem entender o refrão do samba-enredo, as crianças que se arriscam em ofender os homens fantasiados que as matam de medo.
O resmungar incontrolável da velha que cata latas é indescritível. Talvez sinta sede, talvez sinta fome, talvez seja carnaval.
A chaleira apita, imita o som feito nas ruas, sente inveja. A água que grita viraria chá, porém é substituído por café nos últimos minutos do início de uma noite vazia. Café forte com gosto de Brasil.
Faz calor na sala apertada e escura. O rádio se preocupa apenas em tocar os CDs dos Beatles. A TV protesta silenciosa ao exibir um leilão interminável de jóias. O mundo festeja delirante. É linda a distância que se pode ter do mundo com um pouco de esforço e frieza.
A caneca na mão denota solidão, o roupão demonstra desmazelo, a face não esconde a tristeza. A cena é mutável, sempre será.
Um bloco de rua passa. Convida a todos para participar da festa animada, demonstra o que a resposta positiva pode proporcionar. Some confuso por não agregar mais foliões. Resolve trocar a decepção por "são vocês que estão perdendo". A noite continua.
O telefone toca interrompendo o pensamento sobre o livro lido no dia anterior. A proposta interessa, cativa e é negada. A solidão neste momento é preferível. A vida chama, indaga, propõe. É preciso entender, é necessário explicar.
A noite termina entre dúvidas e tamborins.
Sobre os selos que me mandaram nas útlimas semanas: Selos
.