sábado, 27 de junho de 2009

Cama

O sopro doce sobre a pele macia, a música cantada bem baixinho e o cheiro forte de terra molhada. Chove lá fora, de cinza a paisagem já familiar, amiga, é tingida. O mundo pára entre as piscadas demoradas do olho caído. Pode ser que quando acorde esteja frio e sem chuva, se sim, sairá para terminar de decorar a casa que faz para o gato que vai ganhar de aniversário, ou pode subir na árvore que admira há anos pela janela de seu quarto.
O pé sente o lençol macio e a mão puxa a mão da mãe como se fosse ela o melhor cobertor do mundo. Sente-se seguro para dormir durante a tarde, pensa que talvez os monstros que podem oferecer perigo durante a noite podem estar ocupados demais para se interessar em perturbar seu sono vespertino.
Como não pode ser feliz? Ouvira o pai falar da existência de muita tristeza no mundo, não consegue entender, sente-se culpado. Seria ele a exceção ou mais uma anomalia? Não vê defeito no mundo e alegra-se quando as coisas não vão como devem ser, não tem medo do futuro. Será egoísmo? Por possuir muitas coisas, física e emocionalmente, ficara indiferente à tristeza do mundo? "Criança não precisa pensar nisso menino!" - Respondem sempre que pensa alto. Não pensa alto, nem fala sozinho por defeito, só gosta da sensação de conversar consigo mesmo. Dorme enfim.

sábado, 20 de junho de 2009

Grey Garden

Gosto tanto quando um filme faz sair do normal, do superficial. Flutuei com esse tal jardim, me transpus. Tive medo do futuro, de perder cabelo e de não ser.

Cigana

- Eu vejo um mundo dourado pra você.
- Só por olhar as linhas da minha mão?
- É. Vejo também que terá muitos amores.
- E com qual devo ficar?
- Escolha. É possível que fique muito rico.
- Já me disseram isso.
- Mas morrerá cedo de câncer.
- Larga a minha mão sua puta.
- Está bem, morrerá dormindo.
- Exato...

terça-feira, 16 de junho de 2009

Catarse

Sento bobo e desajeitado sobre o divã. Doutor Carvalho se vira rápido com um impulso no chão que faz a cadeira giratória parar exatamente de frente para mim. Sorrio. Ele sorri. "Bom dia, como estamos?" - Pergunta. Respondo mudando rapidamente de expressão que só posso dizer por mim e que a resposta não é das melhores. Ele faz aquela cara que deixa transparecer que tem todo o conhecimento do mundo em suas mãos e que pode rotular com certeza todas as minhas disfunções sociais. Encosto a cabeça na parte alta do divã e dou sinal de que nossa próxima hora de frases sobre mim vai começar. "Aconteceu uma coisa muito estranha comigo esses dias”.- Digo esperando que se inicie algo parecido com um diálogo que me deixa mais confortável para continuar. "Não me importo!" - Disse o Doutor num misto de agitação e alegria. "Como não?" - Volto a sentar dizendo. "Meu filho, pare com isso”.- Disse e olhou-me fundo insinuando que não queria réplica. Faço-me de ofendido e me ponho de pé frente ao Doutor Carvalho, olho-o no olho esperando demonstrar toda a raiva que tento sentir e cuspo no chão. Saio de lá curado.

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Espero voltar, mas não como antes, a ser presente por aqui. Não entenda presente como constante. Espero que tenham gostado das mudanças. Vejo-os.