terça-feira, 30 de setembro de 2008

Cívico;


Acordou às 5:30 para não chegar atrasado, passou sua blusa social branca (a única do armário digna de seu grande dever), lavou o que chamava de cabelo com sabão de coco, juntou todos os seus documentos, comeu meio pão duro da tarde anterior e saiu.
Sentia-se grande e superior a todos que por ele passavam. Imaginava o futuro de todos os garotos que via e acabava sempre sentindo pena, afinal o seu era o futuro digno de um homem.
Chegou lá e viu muitos garotos de sua idade sentados na praça onde deveria chegar as sete (porém, chegara às 6:30). Apenas esperou.
As sete sua sonolência fora quebrada pela corneta desafinada que tocava a alvorada, então levantou do banco de cimento do canto da praça e caminhou em direção ao homem fardado que falava alto enquanto os adolescentes se reuniam a sua volta.
Fez testes, respondeu perguntas e passou por uma consulta médica.
Depois de 3 horas dolorosas em uma cadeira de madeira, avista um enfermeiro na porta principal do auditório onde aguardava. Ele carregava um pedaço de papel branco, "deve nos chamar para mais um teste." - imaginou.
- José Ronildo Pereira Silva.
Prontamente José responder: - Sou eu senhor.
- Infelizmente, você não será útil no exército brasileiro, agradecemos sua colaboração.
José saiu do batalhão com a maior tristeza do mundo e quando um garoto de sua idade passou por ele, apenas imaginou que talvez fosse ele seu futuro patrão.

Por Lucas Moratelli.


Acordem o progresso!

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Diálogos de Frida;

Volte agora Frida! - Disse, e sem perder a pose continuou: - Não vê que preciso de ti para completar o quadro? - Frida, agora mais sonsa do que antes, riu da situação e disse ao pintor pomposo: - Continue sem mim, oras!
De fato continuou, mas a pintura não é a mesma sem Frida a sorrir no quadro.


****

Nunca viu menino? - Disse Frida ao jovem roqueiro que a olhava enquanto atravessava a rua. Ele a ignorou!
Frida era frígida, disso o jovem não tinha dúvida. Mas a imagem da mulher de meia idade não lhe saiu da cabeça até chegar em casa e se trancar no banheiro por quinze minutos.


***

Conheceu aquela mulher que morou no 102? - Perguntou a velha gorda. Sim! - Respondeu a jovem de cabelo vermelho que morava no 107, e continuou: - Chamava-se Frida. "Chamava-se"? - Perguntou a gorda mais curiosa do que nunca. "Sim, pretérito perfeito. Morreu atropelada enquanto atravessava a rua, semana passada eu acho, logo depois de sair de um atelier. Dizem que foi por que um menino mexeu com ela. Vai saber!" - Diz a mulher do 107 enquanto prende o cabelo.

Por Lucas Moratelli

domingo, 21 de setembro de 2008

Por quês;

Estava sentado no chão da conzinha escrevendo sobre si sentado no chão da cozinha.

A xícara de café insistia em não terminar, e ao pensar nisso vacilou, acabou escrevendo fora da linha. Não se importou afinal a letra já estava uma porcaria mesmo.

A música que tocava era calma e passional, o que o deixava mais tranqüilo e com ar de intelectual, era o que ele imaginava.

Certo trecho do que escrevia convém transcrever.

“Sua vida era simples e parecia complexa. Tudo merecia um porque, até mesmo a fixação por ‘porquês’. De que valia afinal, viver sem saber o porquê viver.”

Na verdade sabia que seu problema era não ter nenhum problema. E por ironia da vida esse se tornou o seu problema mais intrigante.

Quando consegue deixar a xícara vazia, conta-se nos dedos os segundos, a chama do isqueiro se acende na ponta do último cigarro. “E agora? Acabaram os cigarros!” – Escreve ele nesse momento.

Enquanto observa a fumaça sair pela janela, imagina com sua grande prepotência que um dia ainda irá ser muito famoso. Um ronco que parece ser de um carro com problemas no motor invade sua pseudo-visão de futuro e atrapalha a música da mulher louca que se solidificava na solidão da casa.

De súbito lhe surge uma dúvida. Como terminar o belo texto que dedicava a si próprio? Cansado, levanta do chão com o resto de cigarro nos dedos e joga a folha de papel no lixo.



Por Lucas Moratelli (a imagem também, e não me orgulho disto)



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Já paraste à pensar, se realmente és o que pensa ser!?

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Loucura;

Quando as vozes aumentarem
A sensação de perda crescer
Tuas memórias irão

Seu mundo é você
Ninguém entenderá teus atos
Apenas você

Siga sem olhar para trás
Teus monstros te ajudarão
E o medo ficará, sempre, a teu lado

Não deixe sentir-se angustiado
Governe seu império
Seja seu rei

Mostre teu poder
Seus gritos de ordem serão de dor
Estará vencendo a si próprio.


Por Lucas Moratelli.



***
- De que vale tudo isso, afinal!?
- Não sei não, viu.

-É, imaginei!


sábado, 13 de setembro de 2008

Tua imagem,


Ptz! Publicaram meu conto no site da Mojo!
http://www.mojobooks.com.br/mojo_inteira.php?idm=126



Corriam em direção à cidade vizinha mulheres, crianças e os homens que aquela altura eram chamados de covardes.

De vermelho pintava-se o céu, enquanto os homens valentes em suas armaduras quase celestiais se preparavam para a maior guerra de suas vidas.

Armas especiais com efeitos devastadores eram armadas nas colinas da cidade cinza. Em cima dos prédios foi onde ficaram todos os atiradores especializados em armas de grande alcance. E em marcha simétrica vinha na rua centenas de soldados preparados para tudo.

Era de saber geral que algo definitivamente perigoso se aproximava com velocidade e verdadeira cólera da população daquela tão humilde cidade. E o sentimento de derrota iminente já era a ponte entre os rostos aflitos que se ligavam por olhares frios e melancólicos.

Então, como num passe de mágica, o céu que tinha cor forte de sangue e nuvens mais pesadas do que as de fim de agosto, se limpou revelando um mundo paralelo, que carregava a imagem da cena que fora montada pela cidade "nervosa".

"É um espelho?" os guerreiros assustados se perguntavam olhando para suas próprias imagens. Piedosos de si mesmos guardaram suas armas e suas expressões de guerra e voltaram a viver com medo do monstro que criaram.


Por Lucas Moratelli



(Desse eu nem gostei tanto. =/ )

sábado, 6 de setembro de 2008

Auto-Ajuda-Me!?

"Eu te odeio!" - Exclamou ela. E antes de poder se mover continuou com tom de ódio a dizer: "Você é a coisa mais horrenda que poderia ter surgido no mundo!". Cansou, saiu de frente do espelho e continuou a ler o livro de auto-ajuda.
"O próximo passo para ser confiante é olhar no olho de todos seus verdadeiros amigos e dizer-lhes o que realmente pensa sobre eles." Não tendo amigos verdadeiros, essa parte ela pulou.
Depois de um capítulo inteiro sobre os amigos verdadeiros, chegou ao último e revelador capítulo que lhe diria o passo mais importante para a auto-segurança.
Angustiada e cansada começou a ler. "Parabéns, se chegaste até aqui é porque é perseverante e merece ser confiante e seguro (a), a partir de agora sua vida mudará e sua atitude diante à vida será realmente compensadora." Olhou a página seguinte e a única coisa que havia era o endereço da editora. Com leveza e ironicamente com um toque de confiança a menina gorda levantou do chão do banheiro e arremessou o livro na privada.


Por Lucas Moratelli

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Cadê?

- Eu não tô ficando louco! Você acha isso Policarpo?
- Eu acho que não.
- Cara, não tem nenhum Policarpo aqui.
- Ok, então há uma possibilidade.
- Eu continuo achando que não. =/




Policarpo tem estado sempre certo ultimamente.


[Péssimos dias tenho vivido]