segunda-feira, 6 de abril de 2009

Impessoalidade

Enquanto explica suas dores e seus distúrbios, procura em seu íntimo conformidade e explicação para os desenganos alheios. Não os desenganos dos outros, esses pouco importam, mas sim os próprios desenganos que se figuram alheios pela distância que tem do "eu" exposto a qual chama de "verdadeiro eu". A vida simples que seu "verdadeiro eu" leva aos empurrões de sonhos comuns é fácil de corrigir, analisar, mudar e encarar.

Os destroços da figura interna são complexos e merecem atenção. Não a atenção da senhora pseudo-intelectual que o escuta por horas pagas no fim do mês. Continua indo às sessões por gostar das tentativas falhas de entendimento de seu "verdadeiro eu". Seu "eu" íntimo, problemático, inatingível é só seu, de mais ninguém.

A conciliação entre os desejos mórbidos de sua personalidade fácil com seu outro "eu" denso tem de ser auto-concebida, e não proposta por estranhos que nunca encostaram no núcleo do átomo purgante e explosivo.

Suas prosas públicas feitas em grupo escondem o mal sujeito que não vê solução. O "eu" simples funciona como esponja de caracteres recebidos. Sonhos, vontade, desapegos e ódios ditos entre assuntos irrelevantes são sugados e expostos futuramente. Não há verdade. Frente ao mundo corrosivo melhor expor coisas boas, comuns.

O "estranho eu" fala ao ouvido nos momentos solitários, provoca pensamentos de crise, indaga sobre a falsa reputação, fere. Não vendo solução o torna alheio.


10 Opiniões:

Bismarck Bório disse...

A senhora pseudo intelectual!rs

Quando olhei eu ri,depois saquei e pensei:

"Sábios são aqueles que entendem seu próprio interior sem intervenções alheias diretas".

Sempre haverá o conflito interno,o que se decidirá no final é o consenso ou o instinto?

não sei responder,deve de ser da natureza de cada um! ;)

Ótimo cara! Abração!

Luciano Freitas disse...

putz, arrebentou nesse texto, Lucas! realmente o "eu" de cada um, na minha opinião, não é de ninguém mesmo; só mesmo daquele que o carrega!

ótimo texto, cara! como sempre, curto e completo!

Juliana Lima disse...

massa teu texto...
K. Jaspers devia estar nessas crises existencialistas para escrever seu livro : iniciação filosófica...

O meu "eu" não posso defini-lo, pelo menos tento, mas nunca o encontro todo... o ruim é sempre precisar da opinião dos outros para tudo o que fazemos.... infeliz sociedade do diálogo!....

Belo texto.

JFM disse...

Obrigada por ter comentado em meu blog, acho que aquilo tudo se resume em carência e desilusão, mas acho que depois passa, assim espero.

Em relação ao seu post achei incrível, apesar de muitas vezes ser tão explicito o "estranho eu" ,sempre me perco em saber. Maravilhoso texto, um pouco confuso para uma mente fraca (como a minha), rs, mas super real! Amei, bjs

CooKie disse...

é dificil ser vc msm no mundo q qr q tds seja iguais...

vc é filósofo?? deveria escrever alguma coisa assim... mt bom msm


...
to seguindo aki...

Tainá disse...

Tem gente que diz que somos plurais. Quer dizer, naturalmente nos comportamos, pensamos e desejamos de jeitos diferentes de acordo com o ambiente e o que ele exige de nós... eu concordo.

kbritovb disse...

não faz meu estilo mas parabéns msm assim

Rafael Estefanutti disse...

Achei interessantíssimo o texto, parabens!!!

Falar sobre esse "EU" de cada um torna-se desafiador, uma vez que as pessoas são inconstantes "esponjas" cm vc mesmo disse...

Grande abraço, obrigado por ter comentado no meu Blog.

A Torre Mágica | Pedro Antônio de Oliveira disse...

Uau!

Profundo esse texto. Profundo.

As "suas ideias de um louco" estão despertando, cada vez mais, reflexões :) .

Parabéns!

E obrigado pela presença!

Feliz Páscoa. Te espero por lá.

Abração.

Pedro Antônio

Vinícius Rodovalho disse...

Lucas, certa vez eu comecei a desconfiar da existência, também aqui, de dois eus. Mas os anos que se seguiram levaram a uma conclusão um tanto mais perturbadora: não são dois, são múltiplos.

Um que aceita tudo, bondoso ao extremo. Um que critica tudo e todos. Um que sabe tudo. Um que não sabe nada. Outro que dorme. Outro que fala sozinho, em inglês. E um regulador.

E olhe que esses são os já catalogados. Devem haver outros, escondidos, ou mesmo à mostra, mas que não fui capaz de visualizar.

Haverá conflito entre essas personalidades, sempre. Imaginar que se darão bem pela eternidade afora é análogo a imaginar que todos os gatos e ratos do mundo se deem bem. Pela própria diferença de objetivos. Pelos próprios contrastes.

Agora, cabe a um desses eus, o regulador, tentar a conciliação. E esta nunca será encontrada na sala da senhora pseudo-intelectual, é certo. Ela pode te ajudar a entender um ou outro eu. Mas a administração total, é sua. Só sua e de mais ninguém.

Um verdadeiro equilíbrio bambo, que se segue ininterruptamente, é o que se pode esperar. Quando ameaçarmos cair para a direita, que joguemos o peso para a esquerda. Jogo de cintura.

Não adianta é tratar com impessoalidade tais problemas de cunho tão pessoal. Ou pessoais, visto que envolve tantos eus.

Belo texto. Gostei MESMO. Profundo demais para tão poucas palavras. E desculpe pelo sumiço. Correria, preguiça e rapidez do tempo, sabe como é, né?

:)