terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Epitáfio.


Foi comprado por míseros cinco reais, que se não fossem usados em sua compra seriam gastos em um maço de cigarros. Recebeu o nome de Epitáfio, não por seu significado mórbido, mas sim pela beleza e pelo mistério que rondam a morte.

Não tinha pedras coloridas, peças de um jogo de xadrez de vidro quebrado se apropriaram dignamente do serviço.

- É fêmea ou macho?
- Não sei.
- Como não, você os vende sem saber o que são?
- Se são verdes ou azuis digo que são machos, se são vermelhos ou amarelos digo que são fêmeas. Ninguém reclamou até hoje.

É azul, então é macho, mas isso pouco importa agora. Já estabelecemos alguns contatos, com furtivos olhares. Descobri uma coisa surpreendente, ele é mais profundo que o aquário que o guarda.

6 Opiniões:

Pingo de Leite disse...

Adorei teu blog. A música, a mensagem lá no topo, a postagem... dá vontade de ficar lendo e ouvindo essa música o tempo todo. Sobre a postagem, um pensamento simples e edificante. Percebemos o quão simples é a vida e o quanto a complicamos...

Vinícius Rodovalho disse...

Eu nunca tive um peixe. Nem azul, nem fêmea. Tive um cão, por menos de um mês, os gatos do vizinho e uns pássaros que de vez enquanto viam me incomodar. Ainda tenho um pé de feijão e um cacto, serve?

E da mediocridade dos meus seres vivos de estimação, passemos à profundidade daquele aquário. Seria resultado das peças de xadrez? Ou apenas o seu reflexo? Profundo por um motivo ou outro, o peixe era mais, como você disse. Pelos olhares? Ou pelo que os olhares viam? Eu fico com uma terceira resposta: pelo que o inconsciente via.

E depois de tantas declarações confusas, para terminar - e veja que posição mais apropriada -, falemos da morte, que é bela e misteriosa. Devo concordar com a sua adjetivação pelo simples motivo da convivência que tenho tido com o assunto. Não, não estou morrendo (creio) nem ninguém próximo. É que nessas férias ando lendo bastante Vinicius de Moraes e Machado de Assis, que acabam trazendo reflexões legais sobre a morte. E aí eu lembro de José Dias e seu último e belíssimo suspiro, das Memórias Póstumas do Brás, do Quincas e do poeminha do meu xará, com o qual encerro este exageradamente longo comentário:

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.


E Epitáfio é um belo nome.

Luciane disse...

Muito bom, Lucas. Sensível, tocante.
A escolha da música tem tudo a ver. Talvez eu seja suspeita para dizer,rs.
Queria ter essa música desde a primeira vez que ouvi, não sabia o nome. Agora sei.

Anônimo disse...

Um peixe, é Lucas!

Que bonito, um zoo em casa!
Vou te arrumar uns pares e fica uma Arca de Noé! Arca de Lucas!

PS: Essa música me deu foi um susto, demorou pra carregar e quando carregou eu não estava preparada!

Luciane disse...

em um selo para vc em meu blog
Abraços,
Luciane

http://isso-ou-aquilo.blogspot.com/2009/01/premio-dardos.html

Jessica Laviere disse...

Adorei o texto,muito tocante e incrivelmente profundo,quem me dera se eu conseguisse me expressar assim...não sou muito boa em cuidar de seres vivos,mas inacreditavelmente tenho uma hamster que sobrevive aos meus cuidados há incriveis 11 meses.