terça-feira, 4 de janeiro de 2011

fim de temporada

É como mudar de apartamento, mas sem levar as roupas.
É como comprar carro novo, mas deixando a carteira de motorista.

Mudo de ares, talvez de assuntos. Cansei das ideias, elas demandam tempo.

Quer me encontrar?
Continuo perdido nos botecos da vida, nas coxas cansadas, nos sonhos dormidos.

Novo velho endereço para os que gostam desta minha companhia:
http://recorteabstrato.blogspot.com/

Agente se vê.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Sinais.

Apóstrofo de quatro vidas
Corrosão sem graça do cotidiano vazio
Vazio a corrosão do cotidiano sem graça
Nem falemos das rimas, das cores, da taça
Não se ganha quando se acha que vai perder
Perde-se a vitória pelo fracasso da expectativa.
Ponto de exclamação

domingo, 29 de agosto de 2010

Ao lado

Estamos juntos no píer do porto, não nos olhamos há alguns minutos. Eu tenho medo de ele já ter partido e me deixado aqui sozinho. Pelos fortes uivos do vento e pela raiva das ondas contra as pedras não posso ouvir sua respiração. O céu está em um tom de cinza que me deixa confortável. Tenho medo de este mesmo céu parecer melancólico à ele. Perguntei-me quando chegamos se este era mesmo o melhor momento para nossa conversa. Não sei. Acho que não. Ele teria ido, caso fosse. Há talvez a possibilidade de já ter ido. Fico confuso. Vou olhar para o lado. Não, talvez seja melhor perguntar-lhe se está bem. No canto esquerdo, onde tem uma pequena praia que em dias de sol serve de diversão para crianças esperançosas, vejo um pescador consertar seu barco. O barco é azul e branco, a areia da praia é branca, a calça do pescador é azul. Ele, o pescador, olha para o barco e parece ignorar o mar. Sinto vergonha. Ele tão familiarizado com o mar, com a vida, com a dor. E eu, sobre o píer, sentindo o cheiro insuportável de tudo isso. Se fosse o homem da minha vida, esse que talvez esteja ao meu lado, de tudo faria para sugar todos os odores insuportáveis que me cercam antes de chegarem ao meu sofrido olfato. Eu por alguns segundos penso em chorar. Resumo calmo, não devo chorar. Não posso chorar. Estou chorando. Criança abandonada na praia em dia de férias. Meu mundo se acaba quando estou longe dos meus pais, as outras crianças tomam sorvete e passam filtro solar. Eu não, estou sozinho na praia, sob o sol, sem nada. A alegria assume o papel de egoísta. Por que eu não posso fazer parte da festa? Quem não me deixa correr por aí sabendo que no fim do dia eu vou voltar para casa e dormir de cansaço assim que encostar na cama? Paro de chorar. Olho para o lado. Ele ainda está. Sorri para mim. Enxuga minhas lágrimas. Pede desculpa e me abraça. Acho que é mesmo o fim.

sábado, 31 de julho de 2010

Um dia.

A porta na cara
O ônibus vazio
O troco errado
A vida
O passo cansado
O ritmo perdido
A desculpa rejeitada
O desespero
A cama com sono
O sonho complexo
O café amargo
A preguiça
A tevê ligada atoa
O chuveiro frio
O silêncio do mundo
Um dia.

sábado, 26 de junho de 2010

Afiado

- Pedi-lhe o fogo, recebi carícia. Como fizeste da sala pequena o teu pandemônio? Explicaram-me com calma a tua subversão, mas não entendi a tua covardia.

- Podemos arrastar o sofá para aquele canto? Acho que a sala pode ser mais prática se tivéssemos esse espaço livre, você não acha?

- Tu não vês que essas metas só te afundam? O córrego das tuas mentiras escorre entre meus dedos, e você ainda tem coragem de me olhar nos olhos?

- Eu não vejo porque não trocar este sofá de lugar, olhe bem. Tente visualizar as ligações cromáticas que se dariam entre o sofá e a parede nova.

- Faz assim seu escárnio, mete este teu sofá onde quiseres bem. Não me importo com tuas cores, nem tão pouco com suas vontades. Só não quero ter que arrastar esta porra se quiser abrir a janela.