Estamos juntos no píer do porto, não nos olhamos há alguns minutos. Eu tenho medo de ele já ter partido e me deixado aqui sozinho. Pelos fortes uivos do vento e pela raiva das ondas contra as pedras não posso ouvir sua respiração. O céu está em um tom de cinza que me deixa confortável. Tenho medo de este mesmo céu parecer melancólico à ele. Perguntei-me quando chegamos se este era mesmo o melhor momento para nossa conversa. Não sei. Acho que não. Ele teria ido, caso fosse. Há talvez a possibilidade de já ter ido. Fico confuso. Vou olhar para o lado. Não, talvez seja melhor perguntar-lhe se está bem. No canto esquerdo, onde tem uma pequena praia que em dias de sol serve de diversão para crianças esperançosas, vejo um pescador consertar seu barco. O barco é azul e branco, a areia da praia é branca, a calça do pescador é azul. Ele, o pescador, olha para o barco e parece ignorar o mar. Sinto vergonha. Ele tão familiarizado com o mar, com a vida, com a dor. E eu, sobre o píer, sentindo o cheiro insuportável de tudo isso. Se fosse o homem da minha vida, esse que talvez esteja ao meu lado, de tudo faria para sugar todos os odores insuportáveis que me cercam antes de chegarem ao meu sofrido olfato. Eu por alguns segundos penso em chorar. Resumo calmo, não devo chorar. Não posso chorar. Estou chorando. Criança abandonada na praia em dia de férias. Meu mundo se acaba quando estou longe dos meus pais, as outras crianças tomam sorvete e passam filtro solar. Eu não, estou sozinho na praia, sob o sol, sem nada. A alegria assume o papel de egoísta. Por que eu não posso fazer parte da festa? Quem não me deixa correr por aí sabendo que no fim do dia eu vou voltar para casa e dormir de cansaço assim que encostar na cama? Paro de chorar. Olho para o lado. Ele ainda está. Sorri para mim. Enxuga minhas lágrimas. Pede desculpa e me abraça. Acho que é mesmo o fim.