sábado, 23 de janeiro de 2010

Estático

Sobre a engraçada podridão do tédio vespertino acolheu suas ideias mais ousadas de passagem de tempo e dedicou-se ao acaso. Acompanhado da inexperiência da solidão viu-se em meio a um turbilhão de possibilidades inexpressivas ao mundo que não o empolgavam pela fragilidade de suas proporções. Pôs-se fugitivo em si e acasalou o ócio com a preguiça frente à televisão ligada constantemente. Pelos minutos passados enquanto a desculpa de descanso foi válida não se culpou, a partir, porém decidido pela autovergonha espetou-se agulhas imaginárias compostas de expressões de ânimo. Insuficiente em si não mexeu os braças físicos nem qualquer outra parte do corpo esticado em posição de morte. Disperso em pensamentos e com o olhar fixo na tela colorida não se deteve em imaginar os possíveis desfechos do dilema trágico/desestimulante de fim de tarde, apesar das esperanças nenhuma hipótese criada foi interessante o suficiente para erguê-lo.

"Oh, se esta carne sólida, tão sólida, se esfizesse, fundindo-se em orvalho! Ou se ao menos o Eterno não houvesse condenado o suicídio! Ó Deus! Ó Deus! Como se me afiguram fastidiosas, fúteis e vãs as coisas deste mundo! Que horror! Jardim inculto em que só medram ervas daninhas, cheio só das coisas mais rudes e grosseiras."

Hamlet - Ato 1, Cena 2.


4 Opiniões:

Ira Buscacio disse...

Cara,
Quem que, um dia não fugiu de ser ou viver, na estática solidão.
bjs

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

quando nos entregamos à morte em vida, o SER perde a sua essência vital ... a esperança é a motivação maior e não pode ser apagada pela solidão ... mas a esperança sem a garra de viver é inócua ...

muito lindo e forte ...

o complemento de Hamlet é encantador

bjux

;-)

Diversidade.com disse...

Vontade de Abraçar o mundo, estar junto.

Vontade de isolamento
Com vontade de gritar
Vontade de prender o choro
calar sofrimento.
Perceber então emoções que nunca sentidas antes, ao mesmo intervalo de tempo.
Viver não é fugir.

Vontade de não ser



Como sempre visitando e lendo os textos mais belos e emocionantes por aqui!

Um poeta carioca!

/Adriana

Unknown disse...

a descrição de seuas cenas são muito boas! me lembrou um pouco o The Wall, do Pink Floyd! :)