sábado, 25 de julho de 2009

Dormir... dormir... Talvez sonhar...


"Que é mais nobre para a alma: suportar os dardos e arremessos do fado sempre adverso, ou armar-se contra um mar de desventuras e dar-lhes fim tentando resistir-lhes? Morrer... dormir... mais nada... Imaginar que um sono põe remate aos sofrimentos do coração e aos golpes infinitos que constituem a natural herança da carne, é solução para almejar-se. Morrer..., dormir... dormir... Talvez sonhar... É aí que bate o ponto. O não sabermos que sonhos poderá trazer o sono da morte, quando alfim desenrolarmos toda a meada mortal, nos põe suspensos. É essa idéia que torna verdadeira calamidade a vida assim tão longa! Pois quem suportaria o escárnio e os golpes do mundo, as injustiças dos mais fortes, os maus-tratos dos tolos, a agonia do amor não retribuído, as leis morosas, a implicância dos chefes e o desprezo da inépcia contra o mérito paciente, se estivesse em suas mãos obter sossego com um punhal? Que fardos levaria nesta vida cansada, a suar, gemendo, se não por temer algo após a morte - terra desconhecida de cujo âmbito jamais ninguém voltou - que nos inibe a vontade, fazendo que aceitemos os males conhecidos, sem buscarmos refúgio noutros males ignorados? De todos faz covardes a consciência. Desta arte o natural frescor de nossa resolução definha sob a máscara do pensamento, e empresas momentosas se desviam da meta diante dessas reflexões, e até o nome de ação perdem."
Hamlet, Shakespeare

4 Opiniões:

Milena Buarque disse...

Lucas!
Poxa, estou sem palavras!
Andando por aí, descobrei seu blog! E logo me deparo com esse post...
Talvez, me ache uma louca com esse começo de comentário... Rs.
Pelo meu blog, você vai perceber o quanto gosto de teatro e de Shakespeare, então irá entender esse meu comentário! :D

Adorei aqui!
E, nada a declarar sobre o solilóquio "Ser ou Não ser..."! Perfeição é pouco!

Passarei mais vezes!
Beijos,
Mii. ;*

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

o SER e o NÃO SER ... isto é magnífico mesmo ... a questão que permeia ou deveria permear toda a exitência ...

bjux

;-)

Xubis D. disse...

Oi, Lucas!
Nossa, gostei do texto. Shakespeare escreve muito bem, eu adoro. A primeira coisa que li dele foi uma adaptação de Romeu e Julieta para o vestibular, eu estava na 4ª série. Lembro bem.
Ainda preciso ler Hamlet. Tenho em casa, mas ainda não tive tempo nem um desejo muito intenso de pegá-lo e lê-lo. Tenho mais mil e outros livros para ler, e na hora esqueço dele...Mas parece bom, muito bom.
Admito só que esse trecho me deixou com uma pontada de curiosidade mórbida: o que tem depois da morte? Tem alguma coisa? É tão sinistro e macabro...queria saber.
Mas vou esperar. Tenho muitos livros para ler aqui ainda...hahahaha

Beijoos na faringe!
(cuidado: mandar bjos em partes bizarras do corpo humano vicia. é um caminho sem volta...ahuhauhahuah)

Vinícius Rodovalho disse...

"De todos faz covardes a consciência."

É uma questão complicada, essa do suportar ou dar-fim. Depende muito, como salientou o texto, da metafísica envolvida. A certeza da punição eterna caso se dê fim, faz as pessoas suportarem. A possibilidade de impunidade, por sua vez, permite antecipar o fim.

Segundo as minhas concepções, e isso é um tanto pessoal, não está definido como será o pós-morte. E esse agnosticismo, creio eu, não me reprime tanto. Contudo, vejo outras fatores que me seguram neste mundo, que nada têm a ver com fatores de outro mundo...

Talvez, só não tenha encontrado algo tão adverso ainda, e por isso não tenha considerado o dar-fim tão ideal.

É muito relativo, né?

Agora, apesar de já ter-me encontrado muito com ele, principalmente na literatura machadiana, ainda não li Shakespeare. O que li "por fora", contudo, me deixou um tanto intrigado. Julgo que seja muito bom mesmo, visto que inspirou até mesmo grandes obras como Dom Casmurro. É uma leitura a se pensar, depois do russo que pretedo. Rs.

Até!