domingo, 10 de maio de 2009

Lassidão programada

Suas palavras eram como facas atiradas contra um cadáver. Tão pouca importância eu dei aquele falatório que uma mosca voando sobre um pedaço de pão velho me divertiu e concentrou enquanto Joana falava. Em um fim brilhante, desses que só ela consegue de forma estupenda fazer, deu-me tchau e balbuciou qualquer coisa malcriada. Descontente com a fuga sem despedida da mosca, recolhi o pão e fui deitar.

Não fosse a janela de fronte ao leste não teria o maravilhoso prazer de acordar com a luz do primeiro sol do dia. Ainda cansado e um tanto preguiçoso decidi aos suspiros e bocejos ficar por mais algum tempo sobre a cama. Minha ineficácia mental não permitiu pensamentos muito profundos após a decisão de algum tempo de ócio sobre os lençóis, portanto foi com enorme energia e quase nenhuma conclusão que levantei e fui à padaria. A importância com a aparência e as roupas ficou para trás após a guerra que participei mentalmente, depois de tantas batalhas ganhei a guerra e perdi o prazer pela estética. Ao chegar à padaria, vestindo meu pijama e ostentando meu não-penteado, fui à caixa e pedi dois maços do meu cigarro e um pacote de pão integral. A moça risonha e sem criatividade então fez a mesma piada que ouço há meses: "Pão integral pra cuidar da saúde, ah, e seus cigarros para ter de que cuidar (sorriso)". Medíocre. Peguei minha sacola e fui para casa.

O carro vermelho parado na frente de meu portão denunciou que Joana resolveu voltar para terminar o discurso do dia anterior. "Oh, deus!" - Exclamo sempre que vejo esse maldito carro, força do hábito. Após o "bom dia" e acender um cigarro ela se levantou e ofereceu o isqueiro para acender um para mim. "O que você quer?" - Perguntei, enquanto preparava o café, rompendo o silêncio. Na verdade eu sabia o que ela queria e que não ficaria ali tempo suficiente para beber o café que aceitou, mas mesmo com minhas deduções sempre pergunto, detesto ficar perto de outro alguém em silêncio, meu silêncio é só meu. Com Joana longe e suas reclamações ainda ao meu lado fui tratar de minha vida.

13 Opiniões:

Ademerson Novais disse...

Nossa fico surpeso toda vez que venho aqui..traduz nas palavras....o cotidiano...as emoçoes e sentimentos tão bem..que parece estarmos a ve-los ali em nossa frente enquanto vamos lendo...se progetando como um filme ao vivo...

Parabens

Ademerson Novais de Andrade

Luciene Mione disse...

Realmente você sabe escrever muito bem. As palavras "Não fosse a janela de fronte ao leste não teria o maravilhoso prazer de acordar com a luz do primeiro sol do dia" Lembra muito um poeta carlos drummond andrade.

abraços

Henry Barros disse...

muito bom esse texto, gostei ^^

Anônimo disse...

Viajei nesse texto, e nos outros que fiz questão de ler!
Muito bom ;)
Parabéns, virei leitora fiel *-*

Beeijo.

Anônimo disse...

Adorei a piada! hahahahahahahahaha

James Almeida disse...

Tu expressas as coisas simples com palavras de reflexão. Isso é muito bom.

Parabéns pelo blog.
Abraço!

Pati disse...

ótimo post! (sem muita criatividade pra comentar sobre)

Obrigada pelo comentário no cafédefita, volte sempre!
Críticas de cinema
www.cafedefita.blogspot.com

Angel disse...

Mergulhei no seu texto, me vi retratada em algumas situações do cotidiano realmente, muito bom mesmo. Escreve logo um livro!! rs

Parabéns!

Mayara Cardoso disse...

bom post (:
"Ao chegar à padaria, vestindo meu pijama e ostentando meu não-penteado"
eu vou assim na padaria, e pensava que era a única !!

beijos
http://andnobodyelse.blogspot.com

Diego Janjão disse...

Cara,vc escreve muito bem...

e pelo visto aki seu blog é bem movimentado,e com razão...

vc é otimo no que faz...

Vistem: JaNjÃo ComicS

Livia Queiroz disse...

MOço...vc sempre ME surpeende e SE supera...
Poutzzz

Eis um conto gostoso de ler, e enquanto se lê e põe-se a pensar, mais vontade se tem de fazê-lo...
(Complicado o q disse? Não né?)

Adorei!
Parabéns


http://queiroz19.blogspot.com/
e/ou
http://queiroz19.blogspot.com/
e/ou
http://liu-loren008.blogspot.com/

Vinícius Rodovalho disse...

Sinceramente, fico um pouco indeciso entre quem apoiar. O narrador parece um tanto insensível. E Joana parece um tanto chata. Então, acabo por não apoiar ninguém. E dizer que, do jeito que as coisas andavam, foi realmente melhor que o narrador fosse tratar de sua vida. Ponto pra ele, que reconheceu a hora certa.

P.S.: Também gostei da piada.

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Caríssimo Lucas, vc coloca sua alma, suas emoções, seus sentimentos nas palavras. Palavras por vezes engraçadas, outras vezes angustiadas, outras críticas, outras mordazes ... enfim, palavras q retratam a vida tal como ela é, tal como ela é vivida em nosso mundo interior. Parabéns, gostei e voltarei sempre. Tá linkado.
"Tenho medos simples e quero coisas atoa. Não ligo mesmo para a direção do vento." perfeito isto.