domingo, 5 de outubro de 2008

Ritalina;



Melhor mesmo era pintar de preto. Rita decidira pintar de verde. De que vale a opinião do escritor, afinal?

Estive toda a tarde a procura de uma ação, uma simples ação, que me deixasse começar a falar sobre Rita. E a ingrata, assim que acho o começo de seu conto, me ignora e escolhe o verde para cor de suas fracas e ruídas unhas.


Deveria parar de uma vez de escrever e voltar ao meu trabalho de tradução, ao qual nem tenho dado a atenção necessária nos últimos dias, tudo por causa de Rita.

Não consigo explicar a personalidade desta mulher, talvez devesse matá-la assim que terminar de passar o pincel do vidro de esmalte pela última unha. Quem sabe um assaltante de banco apavorado tentando se esconder no apartamento apertado de Rita, ou então um tombo mortal ao sair da sala na ânsia de apagar o fogo do feijão. Ou então uma irônica morte por alergia ao cheiro do esmalte. Não, Rita não merece a morte. E além do mais, detesto imaginar coisas mortas.

E já consigo ver como será a noite de minha personagem. Vai comer qualquer coisa, abrir um livro de poesia e ser invadida por um sentimento qualquer. Talvez ódio, inocente, mas ódio.

A dor de possuí-la começa a me incomodar. As coisas que faço desde uma simples crônica a uma visita a biblioteca pública são rodeadas pelo cheiro de Rita. Cheiro forte parecido com cheiro de remédio, algo com Lina no nome. Ritalina talvez.

Depois de viver por três meses com a cena de Ritalina pintando as unhas de verde, meu amor não me deixa terminar seu conto. Prefiro que fique assim, eterna, com seu cheiro a me perseguir.


(* Copiei na caroça a idéia de fazer uma capa pro conto, mas não ficou tão boa quanto as dele. Blog: Muitos Em Um)

7 Opiniões:

Blog disse...

Parece o tal livro né?

Neuro-Musical disse...

Rita Ritaa Rita!
Nomeee bunito heein?

www.curiosomundodoscuriosos.blogspot.com

Buscando parcerias!

Livia Queiroz disse...

Ai esses nossos personagens desobedientes nos têm na palma da mão... qnto amor e apego temos por eles
Adoro personagens, os seus são sempre mto bons.

Lembrou-me A Hora da Estrela tbm, qndo Clarice tenta mudar os fatos mas parece que Macabéa tem um destino com vontade propria...
louco isso!

Anônimo disse...

Macabéas, Ritalinas...

Já sabe que adorei Ritalina :)


Ótimo!

Anônimo disse...

Já li um livro da Clarice, "A Mulher que Matou os Peixes"; mas neste não existem estas características (ou não as vi).
Mas é a primeira vez que eu leio um conto onde a situação conflitante se dá entre o narrador e a "coisa narrada".
Excelente, uma experiência inédita e enriquecedora!
Parabéns!
Simples por natureza, conto por excelência.

Dá um voto no link do meu nome, é só ver pela URL que é um link seguro!

Quem mais quiser votar eu agradeço!

Danilo Cruz disse...

A sua capa ficou boa também. Abs!

Luiz Marconi disse...

ritalina, se pa ja tomei um remédio com esse nome :)